SVWC: O que é?
Recentemente, a EmpreX teve a oportunidade de participar do primeiro SVWC (Silicon Valley Web Conference) em São Paulo, evento presencial e digital organizado pela StartSe com foco nas principais tendências e inovações do mundo das startups.
Com ilustres oradores, como Steve Blank, apelidado carinhosamente de padrinho do Vale do Silício, João Branco, a cabeça do marketing do McDonald’s no Brasil, entre muitas outras referências nacionais e internacionais do empreendedorismo. O evento foi segmentado nas chamadas “trilhas” de conhecimento: FinTech, Food & Agro, EdTech, HRTech, Venture Capital, Tech Summit, ESG e SVWC (trilha destinada à todas as inovações na administração, criação e financiamento de startups).
Compartilhando Conhecimento
Com mais de 120 palestrantes no evento e múltiplas palestras ocorrendo simultaneamente ao longo dos dois dias de evento, foi necessário tomar escolhas difíceis e acompanhar apenas algumas delas presencialmente.
É com enorme prazer que a EmpreX compartilha os principais aprendizados e as mais relevantes tendências para as startups na atualidade e no futuro próximo.
Steve Blank
O educador e guru do empreendedorismo, que já foi mentor de mentes como a de Elon Musk, ofereceu breves lições sobre como fundadores devem enxergar os processos de uma startup e como se pode compreender novos mercados do zero.
O funcionamento de uma startup é notoriamente distinto do de uma grande corporação, não sendo a startup uma versão em miniatura de uma empresa estabelecida da mesma forma que uma empresa “adulta” não é uma versão aumentada de um startup. Para Steve, startups de sucesso possuem claramente definida a noção de que há dois eixos produtivos que precisam se comunicar e alinhar a todo momento, mas que têm processos e culturas diferentes: eixo de execução e eixo de inovação. Como exemplo de bom emprego desse conceito, Steve cita a SpaceX, em que vale a máxima:
“Se não estivermos explodindo foguetes ainda na base de lançamento, estamos fazendo algo errado”.
Tendo dominado a estrutura e o funcionamento da startup, ainda pode ser difícil distinguir informações de ruídos no mercado. A sugestão do professor de Stanford é compreender profundamente o seu próprio mercado de atuação através do estudo de cada conceito relevante da sua área, de cada participante do mercado e de como cada um desses elementos se interligam. Uma noção não superficial e constantemente atualizada ajudará a discernir as informações preciosas da sobrecarga informacional com a qual temos que lidar na modernidade.
Investindo em Startups em 2023
Desde 2020, um ano considerado atípico e marcado por precificações de startups totalmente descoladas de fundamentos financeiros, está em curso um processo de correção de preços.
Adicionalmente, o momento macroeconômico internacional atual é de alta inflação e correspondente reação de aperto da política monetária pelos bancos centrais, levando à elevação das taxas de juros globais.
Os dois efeitos agem contra novos financiamentos para startups, seja pelo emprego de métricas financeiras mais conservadoras ou pela desvalorização do fluxo de caixa futuro das startups. Como obstáculo adicional surge o maior incentivo a investir em modalidades de renda fixa, mais atrativas com a alta de juros internacionais.
A despeito dessas mudanças, prevalece um sentimento de otimismo cauteloso entre empresas de Venture Capital. Primeiramente, porque as startups que conseguem rodadas de investimento atualmente são percebidas como mais robustas e como estando em promoção, já que os seus fluxos de caixa futuros estão descontados a taxas maiores. Adicionalmente, há ao menos US$ 300 bilhões em “pólvora” no setor de Venture Capital, ou seja, dinheiro que já foi aportado pelos investidores dos fundos de Venture Capital, mas que ainda não foi alocado em startups pelos administradores desses fundos.
Outro motivo para otimismo das startups latinoamericanas é a expectativa de contínua aceleração do crescimento de PMEs (Pequenas e Médias Empresas), cuja expansão será terreno fértil para muitos serviços e produtos ofertados por startups.
Por último, o “quiet quitting”, movimento americano de priorização do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, facilitou e barateou a contratação de capital humano qualificado, sendo outro fator de otimismo para as startups sobreviventes.
Como ser um bom Empreendedor
Sempre é importante ser capaz de analisar a sua própria situação a partir de outra perspectiva. Para o empreendedor, isso pode significar enxergar o seu negócio através dos olhos de um administrador de fundo de Venture Capital. Mas o que um investidor deseja ver em uma startup?
Diferentemente do que era ainda dois anos atrás, há um movimento de valorização do “jockey ao invés do cavalo”. Esse entendimento decorre da constatação de que há mais ideias boas do que equipes competentes para realizá-las. Ou seja, a capacidade de execução é o que torna uma equipe sólida e vencedora, permitindo com que supere desafios inesperados e realize pivôs de maneira eficiente.
Investidores também sentem maior confiança ao lidar com profissionais experientes, que possuem realizações anteriores, que mostraram resiliência através de empreendimentos passados e que sejam bem relacionados (networking).
Outras características mais subjetivas, como humildade, sensatez e compatibilidade de personalidades de investidores com a de empreendedores ajuda na formação de relações produtivas, uma vez que a natureza desse relacionamento deve ser análoga à de sócios em uma empresa.
Empreendedores precisam compreender que promessas do potencial de crescimento perderam espaço junto aos investidores, sendo progressivamente substituídas por valores como a capacidade futura de geração de caixa. Além disso, é cada vez mais esperado dos empreendedores que falem a mesma língua que os investidores e estejam familiarizados com termos das diferentes modalidades de financiamento, como:
- Mecanismos: SAFE, Convertible Note, Venture Debt, Variações de mútuo conversível, Investimento Direto em Equity, …
- Condições Econômicas e de Controle: Preferência de liquidação, Pro-Rata / Super Pro-Rata, Right of First Refusal (ROFs), Drag-along, Tag-Along, Put Options
Como escolher um Investidor
Uma das mudanças no relacionamento entre investidores e startups, que se consolidou nos últimos anos, é a comoditização do capital. Basicamente, o dinheiro de um fundo de Venture Capital não vale mais do que o mesmo dinheiro de outro fundo, enfatizando a relevância do tratamento pessoal entre investidores e empreendedores e permitindo aos empreendedores maior seletividade na escolha do fundo de origem de seus financiamentos.
O bom investidor, aos olhos da startup, é aquele que dedica o seu tempo para de fato compreender e se atualizar sobre o mercado de atuação da startup. Investidores que não desejam oferecer mais do que meia hora de seu tempo para ouvir a sua história, indicam desinteresse e / ou falta de conhecimento sobre o seu mercado e devem ser evitados.
É comum que investidores solicitem o envio do pitch deck ainda antes de uma primeira conversa, o que deve ser evitado ao máximo, uma vez que pode minar as suas chances de contar a sua história e pende a balança do poder de barganha para o lado do investidor.
Um indicador negativo de investidores é a solicitação de medidas que diluam demasiadamente os empreendedores (reduzam a sua participação no controle da empresa), uma vez que participações menores desestimulam os empreendedores e geram uma sinalização negativa para o mercado. A lógica por de trás da interpretação negativa pelo mercado é a de que um empreendedor que enxerga a sua empresa crescendo e ganhando valor não abriria mão facilmente de uma porcentagem dessa bonança, ao passo que um empreendedor que espera pouco crescimento ou até uma queda de valor ficaria feliz em trocar a sua parcela do risco por um valor positivo e garantido no presente.
Os 3 Fatores
Fundos de Venture Capital, em geral, adotam o mesmo tripé analítico para todas as análises de startups que realizam: Mercado, Produto e Empreendedores. Entretanto, cada fundo possui uma maneira própria de avaliar os três critérios. Já citamos alguns aspectos que definem um empreendedor competente, mas o que torna um mercado e um produto atrativos?
- Mercado: Há uma dor clara, sem solução definida e o mercado reconhece a sua ausência. Em geral, mercados que atendem essas características são considerados interessantes quando o seu valor ultrapassa a marca de US$ 1 bilhão.
- Produto: endereça bem a dor do mercado, é uma solução percebida como amigável que também é intuitiva ao usuário e é baseada em tecnologias escaláveis.
Diferenças entre fundos de investimento nos quesitos e pesos dos 3 fatores são aprofundados pelas teorias de investimento cada vez menos agnósticas, especializando-se progressivamente em termos geográficos, setoriais, entre outros. Consequentemente, as expectativas para investimento em startups latinoamericanas são ligeiramente diferentes do que seriam para startups de outras regiões. Espera-se, por exemplo, que uma startup latinoamericana possua uma operação mais global já de início ou que atenda um mercado local gigante.
Compreendendo as Dores
Acompanhar de perto a evolução das dores dos clientes significa fornecer um serviço melhor e estar presente no surgimento de novas oportunidades. Augusto Lins, presidente da Stone, gasta ao menos 20% do seu tempo de trabalho diário conversando com clientes e entendendo melhor as suas dores.
Essa meticulosidade permitiu compreender as nuances da digitalização de serviços e processos, intensificada durante a pandemia, de efeitos peculiares como o ativismo midiático (clientes agora têm expectativas sobre o posicionamento de grande empresas ante tópicos relevantes para a sociedade) e a consolidação do entretenimento como pilar social (conhecimento de séries televisivas como pré-requisito para participação em algumas conversas pessoais).
Outro efeito mais previsível foi a adoção mais ampla do e-comércio, fazendo com que qualquer experiência de consumo fosse diretamente comparada à experiência digital, que é definida por sua fluidez, agilidade e facilidade. Houve, portanto, uma mudança nas preferências e nos hábitos de consumo.
A viabilidade de qualquer solução para uma startup deve se pautar nas preferências do cliente. Tecnologias como o PIX, um sucesso estrondoso no Brasil, teria apenas fração da sua utilização na Alemanha, país no qual o uso do papel moeda ainda é amplamente difundido. Uma tecnologia só se torna uma solução de fato quando esta reduzir fricções do dia a dia.
A competitividade de um setor também define o quão atrativas novas tecnologias podem ser para as empresas que as desenvolvem. No Brasil, a baixíssima competição no setor bancário aliada à escassa educação financeira fez com que bancos não precisassem inovar muito para manter as suas polpudas fatias de participação no mercado e que consumidores tolerassem soluções defasadas e ineficientes.
Novos Competidores
Com startups entrando em campo para desafiar a hegemonia de oligopólios brasileiros (como o bancário), o que se pode esperar das expectativas dos clientes?
Com fontes de dados cada vez mais ricas sobre consumidores dentro e fora de suas jornadas de compra e novas tecnologias capazes de filtrar, categorizar e interpretar essas informações de forma eficaz e certeira, clientes estão descobrindo, e esperando, personalização de ofertas e experiências de compra a nível pessoal – a personalização a nível de tipo de cliente não é mais suficiente.
A lealdade às marcas perdeu o espaço e, em caso de dois produtos semelhantes de duas empresas diferentes, qualquer benefício marginal como uma entrega um pouco mais rápida decreta a decisão do consumidor.
Uma das principais vantagens dos novos entrantes é a ausência de sistemas legados e monolíticos e a consequente resistência à inovação de funcionários habituados a esses sistemas. Entretanto, tanto para startups como para empresas estabelecidas, a priorização para a adoção de novas tecnologias deve sempre respeitar os seguintes pontos:
- Capacidade de resolver dores dos clientes cuja relevância é dada por casos práticos enfrentados pela empresa
- Facilidade de integração da nova tecnologia e a sua modularidade, garantindo uma fácil substituição por nova solução ainda mais eficiente no futuro.
Por último, como bem apontou Lucas Santana, cofundador da Inventivos e referência brasileira em inteligência artificial, a maior parte da população brasileira é economicamente periférica, o que significa que a maior parte das dores dos mercados brasileiros são periféricas. Uma equipe somente consegue gerar uma solução para um problema quando compreende e sente essa dor através do convívio com a mesma. Portanto, para que soluções para os problemas periféricos sejam encontradas e criadas, é necessário que equipes diversas sejam formadas – equipes não-diversas geram soluções não-diversas.
Um dos maiores empecilhos para a elevação de diversidade em empresas é a falta de metas e de recursos destinados ao atingimento dessas metas. Lucas cita como exemplo de política de sucesso o método de grupos de afinidade implementado pela McKinsey, que verificou empiricamente uma correlação entre melhora de resultados financeiros e aumento da diversidade de equipes.
Encerrando…
Há diversos outros tópicos que foram magistralmente abordados por mentes brilhantes nas muitas palestras da SVWC 2022 e que adoraríamos poder cobrir, mas que teremos que deixar para a próxima edição do evento.
Enquanto aguarda pela cobertura do nosso próximo evento, porque não nos conta o que achou da cobertura da SVWC 2022 e o que espera para as próximas edições?
Quer saber mais sobre a EmpreX? Veja o vídeo explicativo a seguir:
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